É comum o fato de que, ao traduzir termos de uma língua para outra, nem sempre se pode traduzi-los ao pé da letra.
Um exemplo na área da madeira é a tradução dos termos softwood e hardwood do inglês para o português. Soft quer dizer macia; hard quer dizer dura e wood é madeira. Assim, ao traduzir os termos para o português, softwood vira “madeira macia” e hardwood vira “madeira dura”, o que não é muito adequado.
Na realidade, não é só um problema de tradução. Mesmo em inglês, os termos softwood e hardwood não são adequados. Ao usar estes termos, eles se referem a dois grandes grupos de vegetais produtores de madeira que, em português, são chamados de coníferas e folhosas.
Os termos em inglês sugerem uma generalização que não é correta. Pelos termos, todas as coníferas forneceriam madeiras macias e todas as folhosas forneceriam madeiras duras, o que não é verdade.
Coníferas ou softwoods caracterizam-se, principalmente, por possuir folhas afiladas ou em forma de espinho e os seus frutos não possuem casca, estando às sementes expostas e colocadas em volta de um eixo. No Brasil, a conífera nativa mais conhecida é o pinheiro-do-paraná cujo nome científico é Araucaria angustifolia. Outra conífera fornecedora de madeira é uma espécie exótica (nativa de outro país, mas cultivada por aqui) que é o pinus. O mais comum no Brasil é o Pinus elliottii, mas existem outros como o Pinus caribaea, Pinus oocarpa, Pinus taeda, Pinus patula etc. Podem ser encontradas ainda outras duas coníferas nativas conhecidas como pinho-bravo ou pinho-do-brejo (Podocarpus sellowii e Podocarpus lambertii) ou exóticas como o pinheiro-de-natal (Cunninghamia lanceolata), e os ciprestes (Cupressus spp.), mas geralmente utilizadas para paisagismo.
Folhosas ou hardwoods caracterizam-se, principalmente, pelas folhas alargadas (por isso chamadas latifoliadas), frutos com sementes envolvidas por uma casca e flores muitas vezes vistosas. A este grupo pertence a grande maioria das espécies florestais brasileiras e aí estão incluídas a sucupira (Bowdichia nitida), o ipê (Tabebuia spp.), o mogno (Swietenia macrophylla), a andiroba (Carapa guianensis), o cedro (Cedrella spp.), o jatobá (Hymenaea courbaril), o pau-brasil (Caesalpinia echinata), o jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra) etc. Temos no Brasil uma folhosa exótica muito conhecida que é o eucalipto (Eucalyptus spp.).
Além das características peculiares de folhas e frutos nas plantas destes dois grupos, também existem diferenças na anatomia de suas madeiras.
As Folhosas (Angiospermas) são consideradas plantas mais evoluídas e possuem células especializadas, denominadas elementos de vaso, para conduzir a água, que é absorvida pelas raízes, para o resto da planta. As Coníferas (grupo que pertence às Gimnospermas) têm um sistema de condução de água mais primitivo e não possuem elementos de vaso. Essa função é desempenhada por outro tipo de células denominadas traqueídes.
Assim, o termo conífera é a tradução correta para a palavra em inglês “softwood”, enquanto folhosa é a tradução correta para a palavra “hardwood”. Traduzir softwoods como madeiras macias e hardwoods como madeiras duras não é correto já que tanto entre as coníferas como entre as folhosas existem madeiras duras e madeiras macias.
Maria Helena de Souza – Analista ambiental
Vera T. Rauber Coradin – Analista ambiental
Laboratório de Produtos Florestais
Serviço Florestal Brasileiro – MMA. |